A Via e seus caminhos
A via e seus vários caminhos. E a primeira vez que escrevo para o site da Wulin. Tenho antes de tudo, que dizer varias coisas.
Primeiro que é uma honra. Honra porque ao meu ver este site nasceu de um longo trabalho que é o da associação Wulin.
A Teresa viga mestra desta entidade, me convidou com a maior simplicidade e tranqüilidade, quando emiti o desejo de escrever.
Este desejo já vinha ha muito tempo. Já fazem muitos anos que pratico, tentando seguir o caminho. A oportunidade em escrever veio junto com maturidade dos 30 anos de pratica, estudos que completarei em 2008. Como dizia o mestre, segue o caminho que o caminho te seguira.
A primeira idéia que me vem a cabeça e a seguinte : A teoria sem a pratica nao é nada. Vejamos só podemos ir para frente se, junto com as teorias marciais, filosóficas, energéticas ou meditativas etc., se pratica de uma forma seguida.
Por vários motivos, um deles é que é a base mesmo do próprio método. Parece um argumento supérfluo, obvio, nem tanto, pois muitas pessoas acham que o racional, o uso do pensamento e o suficiente.
Se fosse assim só bastaria ter um cérebro, mas a realidade e que o corpo mal cuidado envelhece mal, levando com ele nossa agilidade mental.
Segundo que são técnicas que não são fáceis, como algumas parecem, e é preciso estuda-las. Como todo estudo ha um aprendizado que se faz passo a passo. E com o decorrer do tempo que vamos nos aprimorando.
Parece que todo estudo e assim, mas neste nosso caso o verdadeiro passar do tempo tem que ser levado em conta. Por que, porque o corpo precisa de um certo tempo para, se acostumar, realizar e finalmente integrar por completo os novos saberes e técnicas.
Acontece que as vezes não podemos dar seguimento as praticas por vários motivos, doença, viagem, contra tempo da vida por causa da família, do trabalho. Mas o mais importante e ter consciência disto.
Um amigo meu, me diz, que de qualquer modo o « kung fu » a pratica, o trabalho, como quiserem chama-lo, esta dentro de si. E verdade, isto permite desta forma, quando se esta numa destas épocas onde não deu para treinar, praticar duas coisas. A primeira e não esquecer o que já foi estudado e ter sempre em mente o caminho a seguir.
Segundo e que se não da para treinar, nem estudar textos e etc., aplica-lo assim mesmo no nosso dia dia.
Ter em mente o caminho e estar nele, do jeito que der, sempre que der. Reconheço que não é fácil, mas o conselho que posso dar, e que enquanto se esta no inicio dos estudos, como principiante, meio que despreocupado, aproveitam para treinar firme e ter a base que permitira, mais, tarde, ter esta « coisa » enraizada dentro de si. Lembro com bastante saudade e ternura os meus primeiros treinos com o Pe Mira, um pouco aquele clichê do discípulo. Mas cada fase e uma fase e tudo faz parte.
Sejam curiosos, todas as técnicas são validas, cada um tem que encontrar a sua . Não é tanto a técnica que e melhor do que outra, e a veracidade do seu ensino, e o coração, ou seja a ética como se ensina, que é importante. Mas não vamos nos confundir, não vamos praticar varias técnicas ao mesmo tempo, só da para fazer isto depois de bastante tempo quando já se tem uma base forte.
Por que falo disto tudo, porque um dos ensinamentos profundos que o Pe Mira me transmitiu e o da independência. Para mim ser independente e aceitar de pegar nas mãos o seu destino.
Vamos tentar transpor isto com um exemplo simples. Quando se estuda com o seu professor, não podemos só limitarmo-nos ao que ele nos ensina naquele momento, temos que treinar sozinho também. Não podemos nos limitar ao treino da academia uma ou duas vezes por semana. Temos que treinar sozinho sempre que der. Ha um outro aspecto mais sutil.
E a relação mestre discípulo. Podemos imaginar o que o mestre espera dos discípulos : seriedade nos estudos, assiduidade nos treinos, respeito pela técnica, pelos professores, respeito pelos outros alunos, pouco importa o caso (todos nos temos nossas faculdades e dificuldades).
Por outro lado o aluno pode esperar do Mestre um ensino de qualidade, um referente para o seu aprimoramento pessoal, bons conselhos, diria, visto a maior experiência. A interdependência de um grupo que procura a mesma coisa é importante, trabalhar junto, para ajudarmos-nos mutuamente no caminho, aproveitar do que cada um pode trazer. Mas o que não pode e esta relação do discípulo com o guru. Um porque as pessoas ficam completamente dependentes do mestre e não conseguem desenvolver a sua força interna, necessária para enfrentar as turbulências da vida. Segundo porque evita todo conflito de hierarquia, de ciúme.
Quem tem este papel, da hierarquia (ainda que !) e o Mestre que esta ai para cuidar que não acontece nada de radical.
Por fim o melhor caminho e avançar com honestidade (com os outros e com si próprio), sinceridade e discernimento, respeito num sentido amplo da palavra.
De Dentro Para Fora de Um Para Muitos
Hoje de manhã estava vendo um programa sobre o budismo, que passa aqui na França e que recomendo para quem quiser (o programa pode ser visto durante a semana no link: https://programmes.france2.fr/les-chemins-de-la-foi/index.php? page=article&numsite=42&id_article=45&id_rubrique=43 ), e de repente fiquei pensando na, às vezes difícil, relação que deve existir entre a prática que seja ela marcial ou puramente meditativa e o mundo exterior. Não podemos esquecer que a vida é um todo. Não há de um lado o treino e do outro a vida. O verdadeiro objetivo é inscrever em cada dia os conceitos apreendidos nos estudos.
Na verdade o caminho filosófico se confunde com o da vida. Digo isto porque de repente a prática dentro de um templo, um dojo, ou o lugar que você atribui a prática se torna especial. Especial porque ele é o seu referente, o lugar onde você se sente bem, porque há uma situação especial, de alegria, de aprendizado do caminho.
Não podemos esquecer que a prática deve acompanhar cada passo da nossa vida. Claro que esses momentos de práticas individual ou coletiva são valiosas pelo que a gente aprende, sente, troca e são necessárias, é aí mesmo que a gente aprende e se tem uma elevação física e espiritual. Diria que principalmente no mundo difícil de hoje é um refugio onde nós recarregamos as baterias. Mas a outra verdade é que temos que aplicar os nossos aprendizados na vida de todo dia, primeiro porque a gente aprende botando em prática as teorias estudadas, segundo porque elas tem um real efeito na vida. E o que aconteceu esses dias comigo, no meu trabalho onde realmente num caso delicado com a minha hierarquia, tive a real sensação de ter aplicado aquilo que eu acredito. Não foi entendido por todos, claro, pois ajudei a promoção do meu colega, em vez da minha), mas até resolvi explicar o meu gesto, explicando que isso tinha a ver com minhas convicções filosóficas ligadas ao taoismo e budismo. O mais incrível disso tudo, e é por isso que escrevo essas palavras hoje, é que realmente me senti muito bem com essa situação.
Frente às outras pessoas para as quais tentei passar minhas idéias, e pessoalmente, e até fisicamente foi muito bom, o que não acontecia há tempos. Por isso é bom experimentar na vida “real” e passar adiante as nossas idéias neste mundo violento perturbado e poluído.
E como o yin yang, não pode haver um sem outro. Não dá para sair do local de treino, e de repente agir de forma diferente. É como se, rezar na igreja não tenha nada a ver com a vida do lado de fora. Não faz sentido não é? A tolerância ou a paciência pode ser experimentada a cada dia, é como um treino. Quando preso no transito é uma forma de prova para treinar a paciência e assim vai. O tal do programa, que assisti, estava falando algo de muito judicioso; temos que ter o espírito do discípulo a vida toda, simplesmente para não entrar na postura daquele que sabe e não precisa mais estudar. É a mesma diferença do faixa preta que pensa que sabe tudo, quando na verdade esta aí o verdadeiro início da busca individual. Dito de outro jeito, não devemos nos acomodar com uma prática imóvel, acomodada, que só serve para aliviar nossa consciência. Não podemos esquecer isto, temos que ser ativos na busca no nosso caminho pessoal.
FONTE: Paul Marc (Paris 2008)