Poema de Tich Nhat Hanh
"Tocando a terra, conecto-me a todas as pessoas e a todas as espécies que estão vivas neste momento, neste mundo comigo. Sou um com o maravilhoso padrão de vida que se irradia em todas as direções. Sinto a estreita conexão existente entre mim e os outros, sinto que compartilhamos felicidade e sofrimento.
Tocando a terra abandono a idéia de que sou este corpo e de que meu tempo de vida é limitado. Compreendo que este corpo, construído de quatro elementos, de fato não me representa, e que não me limito a ele. Faço parte de uma corrente de vida de ancestrais espirituais e antepassados de sangue que, por milhares de anos vem fluindo no presente e assim continuará no futuro. Sou um só com meus ancestrais, com todos os povos e todas as espécies, sejam pacíficos, e destemidos, sejam sofredores, e amedrontados. Neste exato momento estou em toda a parte deste planeta. Estou também no passado e no futuro.
A desintegração deste corpo não me altera, do mesmo modo que, quando as flores da ameixeira caem, isso não significa o fim desta árvore.
Vejo-me como uma onda na superfície do oceano, minha natureza é a água do oceano. Estou em todas as outras ondas, e todas as outras ondas estão em mim. O aparecimento e o desaparecimento da forma da onda não afetam o oceano. Meu corpo e a sabedoria da vida não estão sujeitos ao nascimento e à morte. Vejo-me presente antes mesmo da manifestação do meu corpo físico e depois da sua desintegração . Mesmo nesse momento, vejo como também existo em outro lugar que não é esse corpo. Setenta ou oitenta anos não é meu tempo de vida. Meu período de vida, como a de uma folha ou de um Budha (ou de Cristo), não tem limite. Eu já ultrapassei a idéia de que sou um corpo separado no espaço e no tempo das demais formas de vida."
"Eu nunca vou morrer".
NHAT HANH, Tich - Ensinamentos sobre o Amor. Rio de Janeiro, Sextante, 2005.