AUTOESTIMA E BUDISMO

24/11/2023 08:23

(Texto baseado em tópicos de Maitri - de Pema Chodron)

Autoestima se reflete tanto em nosso relacionamento para conosco mesmas como no relacionamento para com os outros.

A palavra  “Maitri quer dizer  se  acarinhar. Quando nos maltratamos ou não nos respeitamos, maltratamos ou deixamos de respeitar também o próximo, projetando no mundo o maltrato que nos reservamos. É quando nos acarinhamos que podemos acarinhar os demais. Quando nos acarinhamos estamos de posse da chave de ouro para o nosso coração porque podemos valorizar quem nos rodeia mesmo quando são incomodativos.”.

Tópicos:

  • Rejeitamos grande parte do que somos-  e estes conteúdos rejeitados se transformam em críticas que depois projetamos.
  • Algumas atitudes de certas pessoas muitas vezes que nos incomodam, despertam em nós os monstros de nossa intimidade que são a vergonha, a inveja, o ciúme a raiva, o sentimento de abandono, o ressentimento, ou conteúdos com os quais nunca tenhamos entrado em contato.
  • Quando nos sentimos mal, por exemplo percebendo que fazemos uma má figura,  sentimos a grande necessidade de sair da situação. E tanto podemos fazer isso com agressão física ou jogando coisas como que para jogar parte desta emoção fora, como  podemos nos reprimir e nos sentirmos culpados por termos passado por esta violenta emoção tão dolorosa que partimos em busca de anestesia.
  • COMO REAGIMOS QUANDO NOS SENTIMOS MAL?
  • Às vezes sentimos que tudo estaria certo em nossa vida SE  não fosse por um SE. Se não  tivéssemos  casados com a pessoa errada,  SE  nosso chefe fosse outro, SE nosso professor mais tolerante, SE pudesse fazer ginástica, SE  não fosse tão gorda, Se não fosse tão magra, SE meus filhos me escutassem. Alguém disse certa vez e isso é bastante usual: “Sinto-me  sempre como se estivesse travando uma batalha com a vida em que a vida sempre está ganhando”.
  • O importante ensina o Budismo é ter uma boa relação comigo mesma!
  • (A monja diz que ouviu isso há mais de 20 anos e continua tentando aprender)
  • É preciso saber que não vamos conseguir acertar o tempo todo. “Você pensa que pode atingir a perfeição? Pois bem, não pode!”

A monja fala do malabarismo das coisas que ora temos e ora não temos...

Máximas budistas: “Você nunca vai conseguir acertar tudo” “Não tenha medo de fazer papel de tolo”.

“Maitri, acarinhar-se é o fundamento que nos deixa à vontade no mundo, e nos permite  constatar  que o mundo não nos agride.”

 A educação nos faz construir uma imagem  que em vão conseguimos alcançar.

 No Budismo ela se denomina Ego- uma imagem que acreditamos seja imutável. Nem sempre é uma imagem positiva . Daí tentamos recriar esta imagem, e se desanimamos por não conseguir surgem sentimentos negativos para com quem não alimenta esta imagem para nós ou porque não correspondem à imagem que projetamos deles.

É preciso estabelecer amizade  com os conteúdos de minha pessoa dos quais me envergonhava porque enquanto tivesse medo de algum conteúdo iria ter medo dos do mundo.

 Se tivermos opiniões formadas de como deveríamos ser, passaremos a criticar outros que não estejam à altura dos ideais e opiniões que desejamos.

Maitri é conhecer todos os conteúdos sem fugir daqueles que  são especialmente dolorosos e honrá-los.

Começar a vivenciar situações que nem sempre nos deem segurança. Isso nos dá a largada para grandes descobertas interiores. Admitir situações diferentes, inéditas ou atrapalhadas, sentir-se incompetente, arrependidos (de um ataque de fúria enquanto admiramos uma pessoa incapaz de perder a calma)- tudo isso- esta percepção e esse permitir-se são marcos de um coração que começa a abrir-se.

Ao invés de fugir de situações de mal-estar a idéia aqui é começar a se abrir cada vez mais, e prestar atenção ao sentimento de insegurança. Quando acolhemos estes sentimentos conseguimos  transmutar, tornamos nosso coração mais compassivo e vamos percebendo que as fortes emoções que detestamos e  a nossa sabedoria  são da mesma origem.

Não podemos lutar com nossas negatividades. Devemos experimentar sua textura, seu sabor, entrar em contato com elas. Sem justificativas, sem  historinhas.

Empreender esta jornada de autoconhecimento e auto aceitação é  estar com alegria.

O problema é procurarmos alegria de uma forma errada. Buscamos felicidade negando nossos conteúdos internos e achando que devemos mudar. Mas em vez de mudar precisamos cultivar uma inteligência que nos permita observar-nos e ver-nos com perfeita clareza e honestidade e, sobretudo com carinho- Isso é a essência de Maitri.

“Para nos libertarmos do passado precisamos ter uma boa relação de carinho com a pessoa que somos hoje, aceitando as lembranças e relacionamentos, bem como os sentimentos que surgem destas lembranças para não continuarmos agrilhoados à nossa história pessoal  nem pela idéia imobilizante que fazemos de nós mesmos.

“Quando nos preocupamos preocupados em nos proteger não podemos ver a dor estampada na face do outro.” Esta forma imobilizante de proceder  de nossa insegurança e da negação dela nos faz ver os outros como ameaçadores e acabamos por vivermos de forma rígida e dura para conosco mesmos e para com os outros. Não aceitar nossos defeitos e qualidades, nos torna críticos e fechados. 

Quanto mais nos conhecemos, mais abertos e livres nos tornamos. Não tememos ser desmascarados porque nos conhecemos e nos aceitamos. Podemos olhar nos olhos do outro sem nada temer. Daí percebemos que o mundo está em diálogo conosco e não em guerra. Com cada situação, cada acontecimento, com a natureza, com as pessoas, vivemos em diálogo aprendendo a despertar. Nosso mundo é maravilhoso, mas muitas vezes isso nos escapa preocupados em nos proteger em nos armarmos em nos defendermos das atitudes dos outros.

“Falta-nos Maitri quando temos ressentimentos ou passamos julgamentos. Mas por detrás do ressentimento está o medo e atrás do medo está a grande suavidade- um coração imenso e uma mente luminosa e desperta porque esta é a natureza do ser."

O que podemos fazer é ter carinho com quem já somos. Parece fácil mas não é. Mas isso existe em nós, e podemos ajudar outras pessoas a despertarem para a essência de si mesmas, gostando de si e tornando o  mundo mais tolerante, mais harmonioso  como  é a essência de nosso ser.

Teresa Adada Sell

Fpolis. 21/10/04 (revisado em novembro de 2023)